A copa do mundo já começou mas o clima está demorando a engatar.
Aqui em casa isso não é tão verdade, já que temos um viciado em futebol que assiste todas as partidas religiosamente. De um dia pro outro, os Pj Masks não aparecem mais. Não foi de tudo tão ruim. Perdi um marido temporariamente, mas ganhei a sogra. Não foi de tudo tão ruim.
Mas vamos lá. Vestir a camisa e envolver as crianças no clima do nosso país para criar novas memórias, "como aquelas que eu tenho da Copa de 1994", diz o Marcelo. Eu também lembro até do cheiro dos dias de copa, dos adultos reunidos na garagem do prédio, do verde e amarelo nas bochechas, dos gritos de gol, e da melhor parte, ser liberada mais cedo da escola e brincar com os amigos até tarde.
Aqui não tem isso, mas nós decidimos criar.
Encomenda salgadinhos, pão de queijo, faz brigadeiro, convida os amigos brasileiros e pronto, temos uma festa.
Só que não.
Clara reclama de dor de barriga. Se irrita.
Mattia demora pra dormir. Febre.
Eu, sinto dor nas costas, penso em fazer massagem, mas acabo dormindo. Covid.
É, nem sempre a vida dá seta antes de virar.
Por essa eu não esperava, mas depois dos aprendizados de 2020, não gastei muito tempo reclamando de barriga cheia pro universo.
Eu podia olhar pra metade vazio do copo, e reclamar que adoecemos bem na copa do mundo, bem na semana que eu tinha mais coisas pra resolver, bem quando eu tinha mais compromissos importantes.
Mas prefiro olhar para o copo cheio, e agradecer por, antes de mais nada, estarmos bem. Sintomas leves, chatinhos, mas que já estão passando.
Depois agradecer por ser bem quando minha sogra está aqui para ajudar, bem antes de ir para o Brasil e não correr o risco de melar nossa viagem, bem antes da festinha do jogo do Brasil, que seria aqui em casa, e poderíamos contaminar outras pessoas.
É justamente esse exercício de olhar para a metade cheia, que faz a gente, de fato, aceitar que não temos controle daquilo que nos acontece. Mas podemos ter sim, o controle de como nós reagimos ao que nos acontece.
Pensa comigo.
Quantos momentos você já deixou de aproveitar porque não saíram exatamente como você planejou?
Aquele jantar improvisado, que ficou até gostoso, mas você não deu o braço a torcer - famosa birra - porque seu marido esqueceu pela décima vez de comprar um ingrediente.
Aquele perrengue da viagem, que rendeu boas risadas, mas que você continuou reclamando todo santo café da manhã.
Aquele dia de reunião importante, que o bebê decidiu não dormir, e você preocupada em não se atrasar, não percebeu que ele falou suas primeiras palavras.
Ser flexível e lidar com o imprevisto tem sido cada vez mais uma arte.
Em um mundo cada vez mais sobrecarregado, que te cobra produtividade o tempo todo, fica cada vez mais difícil abrir mão do nosso controle e da nossa vontade de ver tudo acontecendo conforme o previsto.
O imprevisto nos sacode e pede calma, coragem e energia para replanejar a rota.
O imprevisto nos deixa vulnerável, e nos faz refletir: o que importa mesmo? Seguir o plano, só pela sensação do “feito”, ou se surpreender com a experiência que a vida nos convida a viver, mesmo em situações difícies, adversas?
Quem assiste This is Us, vai lembrar da cena onde a família está indo passar o Thanksgiving na casa dos pais da Rebecca, e por alguns imprevistos, acabam passando a data em um hotel de estrada. Essa noite frustrante, acabou virando uma das tradições mais importantes da família. Eles assistem o filme que passou naquela noite, naquele hotel barato, em todo Thanksgiving, e passam de geração pra geração. Um imprevisto que foi bem aproveitado, e criou vínculo, história, memória.
Na busca de viver momentos extraordinários, esquecemos de valorizar os momentos ordinários.
Ignoramos eles.
Desperdiçamos eles.
E final do dia, e da vida, são deles que sentiremos mais saudades.
Você não acha?
Adorei a reflexão!
E nada melhor que o This is Us para falar sobre improviso…
É como aquela frase: life is what happens while you’re busy making plans ❤️
Bem isso Paty!!! amei a newsletter!