Ansiedade Produtiva em Mães
Ela vem mascarada de produtividade e eficiência, mas aos poucos devora a nossa saúde mental. Acontece com você?
O ano era 2021.
A playlist (c)alma estava tocando, meu caderninho de anotações fiel escudeiro já estava a postos no aparador de madeira, ao lado de um arranjo de flores brancas que a primavera tinha acabado de me presentear.
Lembro do cheiro de gerânio na sala.
É que em dias de roda de conversa, quando me conecto com outras mulheres, costumo pingar umas gotinhas desse óleo essencial no difusor, para dar espaço para a sensibilidade feminina e ajudar a dissolver os sentimentos endurecidos.
Mais um ritual que me permite criar um ambiente acolhedor – algo que a mulher que está demasiadamente na energia yang acaba não acessando.
Fernanda começou…
“Sabe, eu sempre achei que meu limite era um pouquinho mais na frente. Fui indo, indo, indo. Tentei usar minha licença maternidade para produzir e criar um novo cenário para mim, mas fiquei tão ansiosa, que travei. Meu corpo me travou antes mesmo de começar a realizar qualquer coisa... faltou ar, batimento acelerou, senti que ia morrer.”
Fabi continuou...
“Ansiedade, né. Já que podemos ser vulneráveis aqui, vou falar algo que só consegui repetir em voz alta, uma vez, e foi para meu terapeuta. Eu estou esgotada, não tenho propósito, e perdi a energia até para tentar ser uma mãe melhor, sinto culpa, mas a real mesmo é que esse sentimento está me afastando dos meus filhos porque vejo eles mais como fonte do meu estresse do que como indivíduos. Ai, falei em voz alta.”
Camila fez uma pausa e acolheu…
"Eu consigo sentir daqui a dor de vocês, porque também sou mãe. E esse papel é desafiador demais, mas os meus sentimentos são outros. Me acho uma puta mãe, faço tudo que tem que ser feito, planejo e organizo tudo impecavelmente, antecipo problemas, sei quando vão ter fome, sono, praticamente prevejo o futuro. Mas me sinto sozinha pra caramba sendo a única que pensa em tudo. Meus ombros chegam a doer de carregar esse peso.”
Amanda continuou...
“Eu também. Exatamente. Tenho um alto nível de exigência comigo mesma, porque quero o melhor para meus filhos, mas quando eu erro, e grito, e choro e perco a paciência, sinto uma culpa avassaladora, e acabo buscando um jeito de culpar quem está do meu lado também. Culpo meu marido, minha mãe e até meus filhos.”
Nádia levantou a mão…
“Já eu tenho uma dificuldade imensa de delegar, sendo bem sincera. Prefiro fazer tudo do meu jeito, porque sei que será melhor. Me ferro no fim do dia, mas se eu não controlo tudo, me sinto ainda pior. Meu marido fala que tudo bem eu sair e ir fazer minhas coisas... mas eu simplesmente não consigo relaxar.”
O ano é 2023.
Lembro que Fernanda, tinha uma caso clássico de ansiedade e Fabi, um burnout parental. Ambos diagnosticados por terapeutas e devidamente tratados. As nossas sessões de mentoria em grupo foram um acelerador do processo, segundo elas.
Mas a Camila, Amanda, e Nadia... o que tinham? Na época eu normalizava "coisa de mãe”. Hoje já sei identificar e parei de normalizar. Em mim, e nelas.
Esse comportamento tem nome e endereço, ansiedade altamente funcional.
O que é ansiedade altamente funcional?
Quando a gente pensa em uma mulher ansiosa, vem logo a imagem da Fernanda na cabeça. Nervosa, preocupada, agitada.
E do outro lado, se você pensa em uma pessoa confiante, organizada, desempenhando bem seus papéis, você pensa que essa pessoa não está ansiosa, certo?
Não necessariamente.
O termo ansiedade altamente funcional, ou ansiedade produtiva, é uma condição dificilmente diagnosticada, que descreve uma pessoa que mascara sua ansiedade, gerenciando muito bem suas demandas ao longo do dia. Mas por trás dessa fachada de eficiência, perfeccionismo e produtividade, se esconde uma deteriorização da saúde mental.
O que sente e faz essa mulher?
Um constante sentimento de estar acelerada
Incapacidade de desligar
Tem uma agenda repleta de atividades e compromissos
Trabalha bem, mas termina o dia exausta e estressada
Não consegue diminuir o ritmo, principalmente porque gosta de ser tão ocupada.
Como lidar com isso?
Desacelerando.
Esse tipo de ansiedade é um dos mais difíceis de aceitar, uma vez que tem o encanto da produtividade, do reforço do rótulo de “super mãe”. Mas o custo é muito elevado.
Revendo meu caderninho hoje, percebo que já me vi em cada uma dessas falas, e foi preciso mudar radicalmente meu estilo de vida para perceber que a mudança que realmente impacta nossa saúde mental não é grande. É simples. É pequena. Pode ser pontual, apesar de ter um impacto profundo.
A mudança que precisamos é de desacelerar, começando por nós. Estabelecendo limites saudáveis e pequenos rituais de autocuidado, para então ter energia para (re)começar.
Porque maternidade é isso, não é mesmo?
A grande arte de recomeçar.
No Talks Café dessa quinta-feira, às 7:10am de Brasília, darei uma aula ao vivo no meu instagram sobre Ansiedade Produtiva em Mães. E vou aproveitar a ocasião para abrir as inscrições para a primeira turma do Desacelera, mãe!
Te espero lá!