Guerreira, não!
Uma crônica para te inspirar a descansar sua armadura, tirar a máscara da leveza e lembrar que o ideal da super-mulher-que-dá-conta-de-tudo-sorrindo não existe.
A gente até fala que é impossível ser perfeita, mas a verdade é que continuamos tentando.
Tentando ser a profissional mais disponível, mais rápida, mais inteligente. Tentando ser a filha que liga todos os dias, a irmã mais presente.
Continuamos tentando ser a mãe que lê todos os recados da escola, que não grita, não pune, não se culpa. Tentamos ser a mulher que agrada o marido, mesmo quando queria mesmo era ler um livro em silêncio.
Continuamos tentando, exaustivamente, ser melhor, e mais, e melhor, e mais. Até aí, maravilha. Não tem nada de errado em querer melhorar. O problema é nunca achar que está bom o suficiente, e que os pratos quebrados não deveriam estar quebrados.
A culpa só é amiga quando mobiliza, e não te paralisa.
Continuamos nessa busca desenfreada por uma meta irreal que nos colocamos. Meta traçada no inconsciente, muitas vezes, olhando o palco de outras mulheres. Mas ninguém vê os bastidores.
O Brasil é o segundo país com maior número de pessoas sobrecarregadas, número que vem de nós, mulheres. E não sei você, mas de uns tempos pra cá, eu venho reparando uma tremenda contradição.
Estamos também sobrecarregadas com a leveza.
Tudo que não é leve, fluido e sem conflitos, vira um peso.
Nos doamos exaustivamente para deixar a nossa vida mais leve e no fim do dia, não sobra leveza pra gente. Nem uma gotinha.
Confundimos leveza com ausência de conflito.
Confudimos leveza com ausência de sentimentos desafiadores.
Confundimos leveza com facilidade.
Posso contar a minha própria experiência.
Há 4 anos (como é estranho falar isso em voz alta, parece 1), quando estava em vias de mudar de país, recebi muitos “parabéns pela coragem” de pessoas impressionadas com a minha tranquilidade em pé de mudança.
Eu fui a primeira a acreditar.
Vesti a máscara da leveza.
Incorporei que eu era aquela pessoa zen, fora da curva, que ia pausar a carreira corporativa e mudar de país como quem muda de apartamento.
Mas nosso corpo é inteligente demais, e o meu não deixou passar batido.
Ele me desmentiu.
Era aniversário do Luca, poucos dias antes da nossa partida, uma festa linda. Estava “tudo tranquilo” quando me senti mal. Do na-da.
Pressão baixa, sensação de desmaio, dor no peito. Era físico, dizia eu. Pode ser infarto. Só quero um hospital. Crise de ansiedade, eu? Não!
Paguei língua de uma vida inteira.
[Corta para alguns dias depois]
Aceitei. Acolhi. Agradeci. Caraca, fazia todo sentido!
Eu mal tinha processado tudo que tinha acontecido nos últimos dias.
Deixei a cidade onde casei, onde meus filhos nasceram, onde eu renasci. Deixei amigos, família. Deixei um cargo de destaque e uma carreira promissora na área de Pessoas & Cultura de uma grande multinacional.
Tudo isso para ir morar em um país onde nunca tinha pisado antes, sem uma ideia clara do que seria minha nova carreira?
A ansiedade era legítima.
Maior que ela, só o meu sonho.
Ninguém faz um movimento desses sem sentir emoção em cada pedacinho da pele.
Hoje sei que era isso que eu estava buscando. A sensação de arriscar, de sair do automático, de conectar com minha essência.
De ajustar a minha bússola interna, reorganizar as minhas prioridades e ter a coragem de desacelerar.
Essa crise não foi vilã. Ela fez com que minhas despedidas fossem ainda mais profundas. Lembro de pedir colo pro meu pai, como eu fazia quando era criança. Foi tão bom.
E só quando de fato, aterrizei é que eu respirei aliviada por perceber tudo se encaixando do jeitinho que deveria ser.
Deixei as armaduras de lado, tirei a máscara da leveza e encontrei a minha humanidade, com a vulnerabilidade de quem encara o desconhecido.
Não precisa ser leve o tempo inteiro. Mais do que isso, não dá para ser leve o tempo inteiro, simplesmente porque sustentar leveza o tempo inteiro, pesa.
Ser leve não é dar conta de tudo sorrindo.
É quebrar uns paus pra não ter que dar conta de tudo, ou para decidir o que é o seu tudo.
É bancar as suas prioridades, e no meio do caminho dizer uns não`s.
É subir no papel de adulto e tomar decisões (e sabemos que tomar decisão não é fácil justamente porque toda decisão que a gente toma pode desagradar alguém.)
Ser leve é bancar desagradar. Com amor, empatia e cuidado. Mas fiel as suas prioridades, aos seus sonhos.
Se permite Clarice, “que ninguém se engane, só se consegue a leveza através de muito trabalho”.
Se não arregaçarmos as mangas, amigas, seremos afundadas pelo peso da nossa própria insatisfação.
Outro dia ouvi que as mulheres não são chatas, elas estão exaustas.
Estamos, eu sei.
Também sei que cansaço a gente cura descansando, mas exaustão… só recomeçando.
Vamos tentar outra vez?
É com muita alegria que dou as boas vindas às novas assinantes premium do Lifestyle Talks que chegaram essa semana. Nosso próximo encontro ao vivo será 13/03, às 12h30 de Brasília (16h30 CET) e lá falaremos sobre as mulheres altamente funcionais, a síndrome da impostora, e a importância de enxergar e comunicar o seu valor.
Se você também quer participar dos nossos encontros mensais no Zoom e se tornar parte ativa da comunidade Lifestyle Talks, é só clicar e fazer o upgrade do seu plano. Além disso você receberá conteúdos extras semanalmente e será direcionada para nosso grupo de whatsapp.
Para mais informações é só clicar AQUI!
Eu detesto o mito da leveza. Ele já me pegou algumas vezes. Eu era explosiva. Hoje sou mais “zen”. Engraçado que a explosiva não tinha bruxismo ou crises de ansiedade. A “zen” vira e mexe tem que recorrer a algum tipo de resgate porque travou. Quem vê de fora diz “como você está mais leve”. Só eu sei o que a busca pela falsa leveza me causou. Não quero ser a explosiva novamente, mas estou tentando encontrar um meio do caminho. Adorei seu texto. Com certeza vai me ajudar. Salvei pra ler mais uma vez.