La Vita Lenta
Inspirações italianas para atualizar as nossas métricas de sucesso: tempo para si, tempo em família e tempo offline.
Outro dia me deparei com o Instagram Vita Lenta e a sensação de querer me teletransportar foi imediata. Depois lembrei que morava aqui, na Itália, e que é menos sobre o lugar e mais sobre o estado mental que a gente escolhe sintonizar.
Vita Lenta, ou slow living, é uma abordagem à vida e ao mundo. O conceito é direto e imediato. Um momento de suspensão da realidade, uma respiração mais longa, uma fuga do mundo, um pequeno vazio para ser preenchido com significado.
É uma maneira de interpretar o que nos rodeia - porque cá entre nós, o ritmo anda acelerado demais, não acha?
E é bem aqui que esse tema também se conecta com você.
Pensa na sua carreira, no trabalho que você tem feito, nas demandas que tem atendido e nos incêndios que tem apagado… Reflete por um instante e me conta: Aceitar que você precisa de tempo (e energia) para fazer um bom trabalho é ao menos colocado em pauta?
A busca pela hiper-produtividade está matando a nossa produtividade.
O tédio (combustível essencial para nossa criatividade) se tornou um pecado.
Não fazer nada e se sentir bem com isso, se tornou indutor de culpa.
Aí vem La Vita Lenta, acompanhada de sua nonna, La Dolce Vita, e nos lembra que fazer nada é fundamental. Aceitar que nem tudo é pra ontem e que certas coisas precisam de mais tempo, isso sim é urgente.
Ando refletindo bastante sobre isso, principalmente ao constatar que completando 4 anos de Itália, muitos desses conceitos já foram absorvidos.
Faz 4 anos que o caos pandêmico se instalou e junto com ele nossa falsa ideia de que Itália seria só o primeiro destino, o começo de tudo.
Aqui estamos.
Ainda estamos.
Sem uma previsão certeira de quando ir embora, se vamos ir embora.
A vida italiana é feita de dias longos e anos que voam. Fomos ficando. Entorpecidos pela calma dos dias, pelo primor da cozinha, pelo aroma do vinho, pelo silêncio das tardes, pela simplicidade da vida.
Nem tudo são flores, nunca é.
Quando a nossa lua de mel com a Itália passou, cerca de um ano e meio após nossa chegada, começamos a encarar a realidade nua e crua.
Muitas vezes sinto que o país parou no tempo. A ansiosa dentro de mim, reclama. Apesar de não dar muito o braço a torcer, aprendo. As coisas podem sim acontecer num ritmo mais lento. Nem todos tem pressa.
Aplicar essa teoria na prática, principalmente profissionalmente falando, está fazendo de 2024 o melhor ano da minha vida.
Já contei aqui e repito: tenho uma forte pretensão de alavancar minha carreira em 2024, sem vender minha alma pro marketing digital e tempo de qualidade com minha família está sendo uma das minhas principais métricas de sucesso.
Meu autocuidado também.
Tempo offline e “viver a vida real” também.
Ambiciosa né?! É que “o mundo está ao contrário e ninguém reparou".
Aqui fica mais fácil reparar e é por isso que coloco tantas vezes esse tema em pauta. Por trás das minhas reclamações eventuais de “parece que esse país parou no tempo” existe uma grande admiração pela firmeza nas tradições, e que sustenta até hoje um estilo de vida mais slow.
“Cogli l’attimo” é uma outra expressão italiana que me encanta. “Aproveite o momento” é um convite a aproveitar o que a vida está nos oferecendo hoje, já que o futuro não é previsível. E o mais importante: não no sentido de seguir buscando mais prazer (alô dopamina produzida pelas redes sociais), mas sim de apreciar o que se tem.
Se eu pudesse te dar um conselho, seria: Agarre nos seus valores inegociáveis.
Eu agarrei nos meus.
Ver o dia, agradecer, olhar para as crianças, fazer minha rotina matinal, ajudar na deles, tomar café da manhã com calma, curtir a preparação, ir caminhando até a escola, voltar direto pro tapete de yoga, trabalhar meio período cheia de criatividade e vontade, me surpreender no meio de uma terça-feira qualquer.
A flexibilidade que eu me permito hoje diz muito sobre o trabalho que eu escolhi, claro, mas vai além. Eu flexibilizo porque entendo o que está em jogo, e pago o preço que preciso pra ficar mais leve.
Poderia estar ganhando mais, produzindo mais, acumulando mais títulos? Poderia. Mas a custo de quê?
Dos meus valores? Ah, esses eu não negocio mais.
Finalizo essa newsletter com uma das frases autorais que mais me arrepiam, porque vem lá de dentro, e carrega nela a minha vontade genuína de criar uma revolução.
A Revolução Desacelera.
Desacelerar é um ato de rebeldia nessa cultura que supervaloriza o busy.
Se colocar em primeiro lugar e ir atrás dos nossos sonhos mais loucos é um ato de desobediência em uma sociedade onde só a validação do outro importa.
E aprender a desacelerar na vida atual é o mais importante; afinal, é nessa rotina que vivemos hoje. Encontrar pausas, maneiras de carregar nossas energias no meio de milhões de demandas é essencial. Meu avô dizia “ o que é importante não é urgente” e você colocou esse conceito de outra forma.
Sempre digo: voce pode querer mudar de vida ( o quanto já falamos disso); mas, você também pode mudar a sua vida!🩷
Sempre certeira! É um tanto difícil a gente conseguir viver a vida em um ritmo mais lento quando o mundo parece querer sempre nos acelerar.