O dia em que minha filha entendeu a missão
Um relato sobre exemplo, simplicidade e o fim da era workaholic — pelo olhar mais puro que já recebi.
No meu último evento presencial, quando comemoramos 1 ano de Mentorise, fiz questão da presença da minha família.
Sim, crianças, correndo pelo evento.
Combinei que eles chegariam depois do meu Talk, para a esperada hora do aperitivo italiano, do bolo e da dinâmica dos balões.
Quis que estivessem ali, não como um detalhe simbólico, mas como parte essencial da história que estou escrevendo. Vendo com os próprios olhos aquilo que tento explicar com palavras: a missão que me move.
Não pedi que se comportassem como adultos.
Não exigi silêncio nem postura.
Eles estavam descalços, brincando no gramado, sendo exatamente o que são: crianças.
E isso só foi possível porque o ambiente que escolhi, e a atmosfera que criamos com as mentoras, permitia isso: ser inteira, ser real.
Na hora de soprar a vela do bolo, poucos minutos antes do Marcelo fazer um mini discurso, a Clara me perguntou: “Quem vai soprar a vela, mamãe?”
Respondi que seríamos nós duas.
Ela e eu. Representando toda uma comunidade.
E aproveitei pra perguntar, ali mesmo, diante de todos:
“Você entende hoje como a mamãe trabalha?”
Ela pensou por dois segundos e, com aquela simplicidade que só as crianças têm (o famoso: me explica como se eu tivesse 7 anos) disse:
A mamãe ajuda as pessoas a ajudarem outras pessoas.
Foi como ouvir meu propósito em voz alta, saindo da boca de uma menina que, mesmo tão pequena, já entende o porquê, mesmo antes de saber o como.
Não se engane com o tom romântico.
Ela sabe que trabalho é trabalho. Que nem sempre estou disponível.
E que às vezes eu também queria parar tudo e viver de férias e gelato.
Mas ela já sabe que é possível se realizar no trabalho sem se anular. Mais do que isso, ela vê com os próprios olhos.
Porque, no fim das contas, o maior exemplo que posso deixar pra Clara não está nas palavras que digo. Está na vida que escolho, todos os dias, viver.
E quando um dia ela duvidar de tudo isso, que lembre de mim…
Não como alguém perfeita.
Mas como alguém que teve coragem de fazer diferente.
Porque a verdade é que o modelo que tanto nos ensinaram a seguir, esse de correr o tempo todo, de se provar o tempo inteiro, de confundir valor com exaustão, está ruindo.
Ser workaholic já não é troféu.
Ser incansável já não inspira.
E uma agenda cheia, sem alma, não é mais sinônimo de sucesso.
A geração da Clara não quer mais isso.
E, no fundo, a nossa também nunca quis.
A gente só não sabia que podia fazer diferente.
Mas agora sabemos.
E temos a chance, talvez o dever, de mostrar que é possível construir uma carreira potente sem se perder de si.
Que dá pra viver com propósito e ainda ter tempo pra brincar descalça.
Que dá pra impactar o mundo e ainda estar presente pra soprar a vela, dividir o bolo, ouvir as perguntas.
Esse é o tipo de legado que quero deixar.
Esse é o exemplo que me esforço pra ser.
E é por isso que, todos os dias, escolho — de novo — esse caminho.
Não porque seja o mais fácil (não é).
Mas porque é o mais verdadeiro.
Pra que ela veja.
Pra que ela sinta.
E pra que, um dia, quando for a vez dela guiar o próprio caminho, ela se lembre:
É possível. E vale a pena.